quinta-feira, 16 de abril de 2009



O chamado interno
Decidir-se pela carreira é decidir a vida

Por Carina Barros

A palavra “casamento”, antigamente, tinha uma conotação diferente da que se tem hoje. Para decisões não muito graves ou para aquelas que poderiam se desfazer, usava-se a prerrogativa de que, o fato em questão não era um casamento. Justificavam-se assim, as re-escolhas. Casar-se, pressupunha uma decisão sem volta. Porém, hoje, casa-se e descasa-se com muita facilidade. Com a profissão não dá para ser assim. Não é uma questão apenas de amar. Depende do saber. Há que se ter condições de conhecer aquilo que se ama.
Não se pode fazer tudo ao mesmo tempo, mas dentre todas as possibilidades, a escolha deve ser por um amor sublime. Supremo. A renúncia existirá. Será somente mais uma, entre tantas. O jovem estudante deve se guiar por aquele chamado interno: a vocação. Esse casamento será para vida inteira e não serão permitidas infidelidades com outras profissões.
Para se atingir o sucesso profissional é fundamental conhecer as qualidades e as características pessoais, baseando-se pela vontade de fazer algo e pelas competências.

Descobertas
Mas como descobrir competências? Este questionamento é muito comum entre os estudantes, principalmente, para aqueles que já concluíram o ensino médio, ou estão próximos de finalizá-los. Algumas instituições educacionais oferecem serviços de orientação profissional. Pedagogos e psicólogos a utilizam. Esta alternativa tem sido muito procurada, em grande parte por adolescentes de 15 e 17 anos. É o que Maysa Yonamine, 17 anos, que está no último ano do ensino médio fará. Turismo e Hotelaria, Comércio Exterior e Psicologia, são as áreas que a despertaram mais. Para ela a orientação abrirá um caminho, onde todas as dúvidas poderão ser discutidas. Além deste serviço, Maysa participa de feiras estudantis, palestras e aproveita para ler sobre várias áreas. “Quero ter uma boa remuneração, pois quero me estabilizar financeiramente. Depois farei aquilo que eu mais gosto”. Esta afirmação se confronta com outras opiniões. Para Ana Patrícia Mota, 18 anos, auxiliar administrativo, que também recorreu à orientação profissional, é possível conciliar as duas coisas, ou seja, pode haver um equilíbrio nesta relação. Ana terminou a sua orientação profissional e está em dúvida entre Jornalismo e Administração de Empresas. Esta dúvida persiste, pois o Jornalismo é algo com que ela se identifica. Já a área de Administração de Empresas permite maior facilidade de atuação, pois já está empregada na área. Porém reitera: “Quero fazer o que gosto”. A orientação causou grandes mudanças em sua vida. “Eu me encontrei mais."

Competição
O mercado de trabalho é outra dúvida recorrente. Sua expansão é crescente, revertendo-se em um maior espaço para os jovens profissionais. Paralelo a isso o número de pessoas formadas cresce continuamente.
De acordo com o último censo realizado em 2005, pelo Ministério da Educação, cerca de 717. 858 pessoas conseguiram concluir o curso universitário. O mercado de trabalho incorpora esses números, tornando-se cada vez mais competitivo. Esta concorrência acaba por permear todas as relações profissionais, estendendo-se inclusive para as relações cotidianas.
É possível supor que o velho drama da escolha profissional tenha se resolvido a partir dessa abertura no mercado de trabalho, porém muitos jovens saem do ensino médio sem saber o que fazer. Não estão prontos a escolher, tampouco aptos a decidir sobre suas vidas. O vestibular é um dos momentos em que esses adolescentes passam a ser donos de suas próprias atitudes.
“Tenho muitas dúvidas em relação ao mercado de trabalho”, confirma Maysa. Os exemplos de profissionais bem sucedidos em áreas que, por exemplo, são caracterizadas pelo seu difícil acesso ao mercado de trabalho, podem eliminar alguns mitos. O mercado de trabalho exige certa maturidade ao escolher e tomar decisões.

Profissional e Vocacional
Uma das definições de orientação adjetivada com os termos vocacional e profissional foi descrita por Mark L. Savickas, teórico e pesquisador da área, como uma ajuda aos indivíduos indecisos, para que eles possam avaliar o seu repertório comportamental e traduzi-lo em escolhas vocacionais. Para Tabata de Mello Rodrigues, psicóloga da Clínica de Psicologia Aplicada (CPA) da Universidade São Judas Tadeu, a orientação não deve ser baseada em testes. “O teste é apenas um complemento”, conclui.
Conhecer-se, por exemplo, é uma forma de melhorar a aplicação dos testes. “O autoconhecimento faz o indivíduo pensar sobre si mesmo”, afirma Evelise de Souza Coutinho, outra psicóloga da clínica.
Em geral este serviço é disponibilizado gratuitamente, como é na Universidade São Judas Tadeu. O trabalho é composto por várias etapas. Em um primeiro momento, é realizada uma triagem, baseada no perfil dos estudantes que procuram a clínica. Para Evelise, o ideal é formar grupos homogêneos, porém é uma tarefa difícil. Pois cada um tem uma necessidade e disponibilidade diferente. Apesar desta impossibilidade, a clínica adota meios que possam diminuir essas diferenças. “Trabalhamos com atividades para o grupo, observando as características individuais”, diz Evelise. Essas atividades vão desde questionários com perguntas pessoais até discussões sobre a influência dos pais na decisão profissional. Há também uma devolutiva individual. Funciona como um feedback. Normalmente, são cinco encontros, que exigem uma maior exposição. Portanto, é perceptível qualquer alteração, qualquer forma de induzir o seu resultado. “Na discussão, as divergências no discurso são percebidas”, explica Evelise.

Pais x Filhos
Os adolescentes sofrem vários tipos de influências. Dos pais, dos amigos, do mercado de trabalho etc. É a primeira decisão individual desses jovens, o que significa que não são mais crianças. A ansiedade não está apenas nos adolescentes, também está nos pais. Alguns serviços de orientação profissional, como o da CPA da Universidade São Judas Tadeu, por exemplo, aproximam os pais para este debate, por meio de encontros, onde os filhos não participam. “Alguns pais admitem influenciar”, aponta Evelise Nestas reuniões, os pais recebem uma carta geral, feita pelo grupo, sem citações diretas. Alguns pais se manifestam, outros tentam se esconder. A orientação procura se aliar ao aconselhamento profissional. Estimular a percepção de várias áreas conflui para uma decisão consciente. Os adolescentes devem ser motivados a pesquisar a área escolhida. Tabata declara que não seria assertivo convidar profissionais, pois poderia influenciar na escolha, além de agradar apenas alguns participantes. A iniciativa deve partir deles. “A partir de um esforço e iniciativa deles, discutimos”, defende Tabata.
As descobertas são importantes neste momento. A orientação, apenas, faz a intermediação dos adolescentes com os profissionais.

Aplicação
Todas as clínicas de psicologia adotam linhas de abordagem diferentes. A usada na clínica da Universidade São Judas Tadeu é a construtivista, ou seja, o sujeito é instigado a construir a sua identidade, se apropriando da sua escolha. É uma construção crítica que colabora para a sua formação. “Na orientação profissional, o adolescente não fará um teste para focar tal área. Aprenderá a escolher”, ressalta Evelise. Quando se conhece apenas uma, entre tantas possibilidades, o indivíduo tende a se fechar para as demais, porém é no momento em que se conhece todas as opções que surgem as indecisões. Essas dúvidas serão importantes para a definição da sua escolha. O campo de possibilidades se ampliará. Não é preciso ter pressa para essa escolha. Esse tempo será definido pelo próprio jovem, porém é possível mudar de idéias. Pode-se começar de novo. O direito da re-escolha existe, afinal nada é definitivo. Nem os casamentos, nem as profissões e, principalmente, a vida.

Nenhum comentário: