segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Chico Mendes - O homem da Floresta


Hoje, exatamente, hoje, faz 20 anos que Chico Mendes foi assassinado em Xapuri (Acre), aos 44 anos. Apesar de pouco ter acompanhando a sua história, sei da importância emblemática que representa a nossa sociedade.
Muita coisa mudou de lá para os dias de hoje. Já nos habituamos a ler e assistir muitas reportagens sobre a preservação do meio ambiente, mas pouco se fala de Chico Mendes.

Quem foi Chico Mendes? Para Marina Silva, ex- ministra do Meio Ambiente, ele era especial, pois "se antecipou ao tempo e deu coordenadas, com clareza e simplicidade, para aspirarmos a uma era de maior convergência entre crescimento econômico, justiça social e respeito a limites no uso dos recursos naturais."

Muitos o admiram, como eu também. Chico lutava pela Amazônia, lutava por aquilo que é nosso. Muitas vezes foi acusado, erroneamente, de fazer o jogo dos capitalistas. Não era compreendido.
Precisou morrer para que todos entendessem o que dizia.

Memorial de Maria Almeida - Sonhos feridos e não concedidos

Cinco e meia da tarde, de um sábado. Maria chega exausta em casa, depois de um dia cansativo. Joga a bolsa no sofá, tira as sandálias e senta. Num instante, recupera-se e desperta para uma outra realidade, a sua. Está em casa, pronta para iniciar a segunda jornada do dia.
Muito cuidadosa, vai ajeitando aos poucos o seu lar. Abre as cortinas para aproveitar, um pouco, a luz do sol. Recolhe os sapatos e as roupas deixados pela casa, na correria do dia. Aos poucos, traz a casa aquele brilho, que só ela sabe como conseguir.
Por volta das oito da noite, José chega e a cumprimenta com carinho. Depois do banho e já recuperado, conversam sobre o dia que tiveram. Dialogam sobre as dificuldades e sobre a esperança de mudar essa situação. Convivem, diariamente, com esses obstáculos. Dula, como é chamada pelos mais próximos, sabe bem como vencê-los.
Muitas mulheres vivem o que ela vive, mas somos incapazes de percebê-las. Estão próximas e longe, ao mesmo tempo. São elas que acompanham o crescimento dos nossos filhos. Conhecem as nossas casas, como ninguém, e não só organizam os lares, mas, sobretudo, a vida de seus patrões. É um trabalho que requer jeito, experiência e cuidado, além, é claro, de muita disposição.

Subir, descer, puxar, empurrar, secar, lavar, estender, ajeitar, arrumar, limpar e cozinhar…ufá! Ser empregada doméstica, não é fácil! Em meio a baldes, rodos, vassouras e outros, a encontramos.

Contradições de uma mesma realidade
Algumas pessoas não utilizam o termo: “empregada doméstica”, preferem: “secretárias do lar”. Quanta hipocrisia! Nos contratos trabalhistas, encontramos essas disposições. Todos somos “empregados”. Não há outra forma de se dizer isso. Discutir essas contradições, de nada nos adianta. A verdade é que precisamos desvendar esse universo escondido, a partir das impressões dessas mulheres. Para elas, essa conversa é inválida. Querem, apenas, serem reconhecidas como seres humanos: “Tudo tem o mesmo sentido, mas desde que não tenha humilhação”, expõe Maria.
Ser empregada doméstica, não foi uma escolha para Dula. O primeiro e único trabalho foi a alternativa encontrada por ela. “Não tive outra oportunidade”, afirma com seu olhar triste e distante, percorrendo todas as conseqüências desse fato em sua vida.
O preconceito, apesar de velado, existe. Olhares de rejeição estão por toda parte: “Quando eu falo que sou empregada me olham diferente. Eu não sei se é discriminação ou humilhação, mas procuro não me afastar.”
A palavra humilhação está presente no vocabulário dessas pessoas. Viver uma situação onde a sua dignidade é contestada, fere profundo, fere na alma. Sentir-se diminuída, menor e desvalorizada é algo comum no dia-a-dia dessas mulheres. Todos se esquecem de que elas são pessoas com sonhos, medos, dúvidas, enfim são pessoas que sentem. Estão em uma situação diferente, porém não são invisíveis. Elas existem. São pessoas como nós.

Vestígios de uma mulher
Dula casou-se e deixou sua cidade natal, São João do Paraíso, no Norte de Minas Gerais, aos 19 anos. Logo quando chegou aqui, em São Paulo, percebeu a grandiosidade dessa cidade. As ruas, os carros, os arranha-céus, tudo era diferente: “Foi difícil para acostumar pegar ônibus. Não tinha coragem de sair sozinha”. Tentava encontrar algo que a transportasse de novo para aquela cidadezinha onde nasceu, para o sertão de Guimarães Rosa, “terreno da eternidade, da solidão”, onde “o homem é o eu que ainda não encontrou um tu”.
O seu falar peculiar a entrega, sem constrangimentos.“É mamãe”, diz ao ouvir o toque do telefone. Na conversa entre ela e sua mãe, o respeito ainda se conserva, mesmo com a distância. O que não se pode fazer pessoalmente, é feito pelo telefone: “Benção, mãe!”, fala ao pegar o telefone. A certa altura, pergunta: “E Nana, Tutu, Jojó e Gil, como estão?”. Esses apelidos revelam pessoas e muitas histórias. Nana é Ana, Tutu é Jairo, Jojó é Geldir e Gil é Gilberto. Esses irmãos e os pais estão longe, mas a distância não os afasta. Pelo contrário, aproxima. Outros três estão, aqui, em São Paulo. João, Eleusa e Lenícia. “Não me sinto sozinha”, fala em tom emocionado. A família é muito valorizada por ela. É o alicerce de sua estrutura.
Além do falar, o seu olhar é marcante, penetrante. É como se ela nos invadisse a alma. Seus olhos nos dizem muito sobre sua vida, sua força e maneira de entender a vida. É muito expressivo, hipnotizador. Deixa claro para o que veio: vencer obstáculos, os mais impossíveis, talvez!

Maria, Maria...
Muitos sonhos lhe foram arrancados, inclusive o de ser mãe. Um exame muda a sua vida. Descobre que seu marido não pode ter filhos. Quando o médico lhe disse: “Seu marido é estéril”, não acreditou. Por um momento, sentiu raiva. Não sabia muito bem se era raiva ou decepção. Não sabia o que fazer, como agir. Não entendia. Pouco depois os dois se olham e se abraçam. Procuram forças um no outro. Milton Nascimento já dizia: “...É preciso ter sonho sempre. Quem traz na pele essa marca, possui a estranha mania de ter fé na vida...”. E Dula a tem, por isso não desistiu. Luta como uma guerreira em batalha.
“A sorte de não ter filho, não é só dele, é minha também”, revela com uma voz embargada. Ela encara o problema como sendo dela. Não esmorece. Decide buscar ajuda. Por orientações de amigos, procura bancos de inseminação artificial. Informa-se sobre os tratamentos disponíveis para o seu caso e percebe que não está sozinha. Assim como ela, milhares de mulheres esperam a sua vez.
A maternidade é um privilégio para as mulheres, que ela ainda não o conhece. Ser mãe é dizer não a si mesma. É entregar-se ao outro, sem medir esforços. Um pai nunca poderá sentir a profundidade do que significa ser mãe. O filho, para Dula, é uma realização e agora um desafio.
Para diminuir os dias e a angústia dessa espera, Dula prepara enxovais não para ela, mas para filhos de outras “marias”. Cada ponto de seu bordado a aproxima desse encontro.
Antes de acontecer, nos sonhos, sente o seu filho, mas não o vê. O tempo não a impedirá de realizá-los. Enquanto, não o tem em seus braços, aprende muito com a sua falta. Essas incertezas são enfrentadas pela fé e amparadas por exemplos como o de Sara, esposa de Abraão, no Velho Testamento, que dá à luz a seu filho Isaque, quando velha. Não temos alternativas, nessas horas, devemos nos apegar a algo mais forte do que nós.

Dula busca essa força na vontade de aprender a costurar, para talvez um dia remendar a sua vida. Todas as situações por ela vivida representam retalhos de uma enorme colcha, que aos poucos vai sendo trabalhada. Ferramentas especiais serão necessárias. Faltam alguns retalhos, outros ainda não estão bem presos. Suas mãos serão indispensáveis na adequação das melhores linhas aos vários tipos de tecido que o destino lhe oferecerá. As linhas serão responsáveis por tecer todos os momentos de sua vida, desde os mais confusos e incertos até os mais perfeitos e decisivos, como ter um filho.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

"O poder acinzenta as pessas." (José Eduardo Agualusa)

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Capote


Hoje, ao assistir o filme de Truman Capote, fui desafiada a entender o que se passa com o ser humano no momento em que decide pela vida de outro indivíduo. Truman, interpretado por Philip Seymour Hoffman, investiga um crime em uma pequena cidade de Kansas.

Como descrever Truman? Um jornalista bem sucedido, que se descobre em meio a um caso que definitivamente mudaria a vida de muitas pessoas. O assassinato de uma família abala uma cidade, aparentemente pacata.

Há um momento no filme em que Trumam deixa claro que existe sim, de fato, uma divisão, entre os que são conformados com as leis e os que não são. A diferença está na forma como são vistos, ou melhor, como não são. Truman exercita o seu poder de investigação. Amarra muito bem os detalhes desta história. Tenta uma aproximação para compreender os assassinos. Como ele bem diz, o livro, talvez seja o único momento em que eles teriam para contar a sua história, de mostrarem ao mundo o que de fato aconteceu.

Será que Truman se deixou levar por suas fontes, que no caso eram os próprios assassinos? Em diálogo com Trumam, um dos assassinos diz como ele deveria escrever. Apesar de Truman desaprovar tal orientação, como podemos garantir que não houve interferência?

Estamos acostumados a enxergar somente um lado dos fatos. Aquele que nos parece mais conveniente. Mas neste filme tive a sensação de estar do outro lado, atrás das grades. Truman levou aproximadamente seis anos para escrever o livro "A sangue frio". Precisava saber o que havia acontecido no dia do assassinato. Talvez ele estivesse esperando o contrário. Esperava ouvir dos assassinos que não eram culpados. Mas não foi assim. Mataram por dinheiro. O assassino e o seu comparsa foram senteciados a forca.
Para maior parte da sociedade, marginais como esses são invisíveis. Não os enxergamos. A forma de expurgá-los foi a forca. Nos reijatamos a entender o que acontece ao nosso lado. A forca é uma forma de esconder de nós mesmos a nossa prodidão.

É só...

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

"O erro é pedagógico!"

Dúvidas, dúvidas e mais dúvidas...

Ultimamente, tenho vivido muitas situações, das quais aprendi muito. Posso dizer que essa aprendizagem foi, ou melhor, tem sido muito difícil.
Acredito, sinceramente, em mudanças. Boas ou ruins. Importantes ou desnecessárias, enfim, não importa o que aconteça, nunca seremos os mesmos.

Às vezes, me sinto perdida. Não tenho certezas, mas as dúvidas, porém, são constantes.
Essa inquietação me assusta, mas não me faz desistir. Esse questionamento não é, e nem pode ser previsível, mascarado por uma ideologia, por uma conveniência.

Tenho medo de me tornar superficial, de cair na ingenuidade de um discurso moralista. Quero encontrar respostas, ou pelo menos, o caminho para elas.

As minhas dúvidas podem ser iguais as suas. Ou não!

Não tenho a pretensão de resolver o mundo com esta busca. Apenas quero fazer com que as pessoas se questinem. O que estamos fazendo de nós mesmos? Por que somos tão subservientes a esta sociedade?

A mudança não pode ficar apenas nas palavras.

Termino aqui, mas as minhas dúvidas não...
Até mais...

segunda-feira, 28 de julho de 2008

SAMPA, meu amor!!!

São Paulo é a minha casa. É o meu lar. Acolhedora e fascinante, desperta paixões. Morar aqui, definitivamente, é uma escolha verdadeira.

Os encantos estão por toda parte. Quem é que nunca se emociou ao entrar na Sala São Paulo? Ou, então, quem nunca admirou a imponência do Teatro Municipal com sua arquitetura monumental? São Paulo tem um jeito próprio. Um ar cosmopolita, além de nos brindar, diariamente, com sua história contata pelas ruas.

Mas há momentos em que precisamos sair de casa como o filho que procura a sua independência. Me desanimo ao dividir a minha cidade com problemas que, por sua vez, tornaram-se crônicos. Falo do trânsito, da saúde pública, das enchentes etc.. Nossa cidade está abandonada. Esquecida!

Reconheço no trabalho das ongs a única forma de articulação entre a sociedade civil e privada, no sentido de fomentar a discussão sobre a preservação da nossa cidade. Mas, só isso não basta!

Temos, não só de articular a população e as empresas, mas também e, principalmente, as idéias.
Com essa articulação, conseguiremos aproximar as pessoas umas das outras.

O que São Paulo precisa? Não tenho uma resposta exata para esta pergunta.

Quem será que precisa ser modificado? Nós ou ela?

Precisamos mudar não só a nossa cidade, mas a nós próprios.

É só...