terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Os segredos da natureza



A natureza se apresenta maravilhosamente

Museu de Arte Sacra

Outro museu que causou um grande encantamento, foi o Museu de Arte Sacra. Pelos corredores do Museu, fui transportada ao período colonial. As esculturas barrocas se realcionam perfeitamente com os espaços. Misturam-se de tal forma a ponto de causar grandes efeitos teatrais.

O barroco traz em si uma grande expressividade e torna possível ao visitante o encontro com um período da arte, que tem em sua essência a contemplação, a admiração. As descobertas são muitas. Fazem-nos pereceber que o sacro está presente, diariamente, em nosso dia a dia por meio da arte.

Museus por aí...

Certa vez, tive a oportunidade de conhecer um dos espaços do Museu da Cidade de São Paulo, a casa do Tatuapé. Construção do século 17, que abriga, hoje, a exposição "Fazeres e Sabores da Cozinha Paulista", de curadoria de Rosa Beluzzo.

A cada detalhe, percebi, o quanto somos influenciados pela cultura indígena e portuguesa.

A miscigenação cultural também pode ser protagonizada pelos sabores.

Vale a pena visitar e conhecer esse espaço. Além, é claro, de conhecer um dos vários registros de expansão da cidade de São Paulo.

É isso...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Memória periférica

Movimento recupera a história do Jardim Ibirapuera em São Paulo

“Não deixe o samba morrer
Não deixe o samba acabar
O morro foi feito de samba
De samba, pra gente sambar...”

Sintetizado em versos, o samba jamais deixou de existir. A composição de Edson Gomes Conceição e Aloísio, “Não deixe o samba morrer”, é um pedido às novas gerações, quase uma súplica, para que o ritmo não caia em esquecimento e não seja abandonado.
Essa cadência nacional nasceu do “Choro”, protagonizado por Joaquim Callado no final do século 19.
De lá para cá, inúmeras são as referências. Algumas conhecidas do público em geral. São elas: Adoniram Barbosa, Ari Barroso, Ataulfo Alves, Cartola, Chiquinha Gonzaga, Lamartine Babo, Noel Rosa e Pixinguinha, grandes nomes do samba para todos os tempos.
O ritmo chegou aos morros, conquistou periferias inteiras e, hoje, movimenta inúmeros projetos sociais. Um deles surgiu nos becos do Jardim Ibirapuera, em São Paulo, o “Bloco do Beco”, um bloco carnavalesco, que se transformou em uma entidade preocupada no resgate dos carnavais de rua e na reconstrução da sua identidade através do samba.
O projeto atua desde 2002, na comunidade, e se sustenta por meio de doações, bazares e, principalmente, do trabalho voluntário. Dentre suas ações, está a implantação de uma Escola Livre do Samba, parceria com Faculdades e Escolas de Música, que pretende construir núcleos de pesquisas que envolvem a prática do canto, a dança, a percussão, o erudito, a história crítica e a memória do samba paulistano, criando espaços para a reflexão sobre o tema.
O resultado disso, está nos seminários, nas palestras e simpósios realizados pela organização. A Escola apóia a pesquisa “Um Batuque Memorável no Samba Paulistano”, de Carlos Gomes, diretor do Bloco, que pretende recuperar histórias e músicas presentes na tradição oral da Velha Guarda do Samba Paulistano.
Por nascer no morro, o Bloco traz aos moradores da região alguns questionamentos, dos quais se conclui que a partir da história do samba se têm novos horizontes, novas possibilidades sociais. Essa memória contribui para entender e situar o desejo dessa gente por esse ritmo nacional.
O morador Givanildo dos Santos Silva vivencia as atividades do projeto através das mudanças geradas na comunidade. “Os jovens são atraídos pela música, pela possibilidade de re-aprenderem a história do seu bairro”, aponta.
Para o sociólogo e coordenador do Bloco, Luiz Cláudio de Souza, a ação não só modifica como, também, transforma. “O samba é o que move todo o nosso trabalho. Tudo o que pensamos e para quem pensamos, passa pelo viés do samba. O Bloco do Beco mobiliza através da arte”, afirma.
Neste sentido, não há a preocupação de se descobrir potencialidades artísticas, mas sim, dar às pessoas uma oportunidade de se descobrirem como seres integrantes de um conhecimento capaz de desenvolver uma comunidade educativa e transformadora.
A diretriz do Bloco está na memória, ou seja, os participantes, por vezes, são incitados a indagarem sobre a história do seu bairro, seja na conversa com os mais velhos, com antigos moradores e comerciantes, seja na descoberta de instituições estabelecidas no local ou fotos antigas. “Os educadores integram esse conceito ao conteúdo das atividades. Dentro do street dance, por exemplo, como investigação da memória, os envolvidos podem pesquisar os movimentos de dança oriundos do bairro, qual a dança mais comum entre as pessoas dali, entre outras lembranças”, explica o sociólogo.
De fato, é na periferia que se concentra uma parcela da população mais carente do país. Esta situação tem se modificado a partir de trabalhos sociais desenvolvidos por instituições e indivíduos dispostos a mudarem a perspectiva das pessoas que lá residem.
Para Souza, as políticas sociais dos governos não conseguem transpor a barreira da pobreza. “Hoje as políticas sociais dos governos servem, apenas, para a manutenção da miséria, da violência, o que gera mais impunidade e pessoas sem sonhos”, aponta o coordenador.
O investimento no desenvolvimento humano deve se sobrepor a qualquer outro. “Não basta ao país crescer economicamente, se grande parte das pessoas, ainda, vive sem ter um subemprego para a sobrevivência mínima”, enfatiza.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Mia Couto



Foi um encontro maravilhoso. Desses que jamais esqueceremos. Entre todas as coisas importantes que ele nos trouxe, uma causou grandes reflexões.

Mia trouxe ao debate uma questão que tanto nos persegue: a de escrever bem. Ele disse, claramente, que hoje os jovens se preocupam muito com a escrita, com a descoberta de um estilo único e se esquecem do principal: o ter uma boa história para contar.

Talvez, esse seja o início para o entendimento do fazer jornalístico.

É só...

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Darcy Ribeiro e Lúcia Santaella

Reflexões para nós, futuros jornalistas!

"(...) Darcy Ribeiro escreveu um artigo que se chamava Sobre o óbvio. Ele terminou esse texto dizendo que, no ano 2000, o nosso país seria visitado pelo mundo inteiro porque aqui haveria algo muito exótico, não as nossas florestas, rios e mares, mas sim algo que no mundo inteiro, provavelmente, teria desaparecido: o analfabeto. Enfim, é um drama. Tantas mídias foram inventadas e nós ainda não conseguimos vencer esse problema endêmico".
(Lúcia Santaella)
Para completar a reflexão, segue o artigo citado por Lúcia Santaella:
Sobre o óbvio
Darcy Ribeiro

Nosso tema é o óbvio. Acho mesmo que os cientistas trabalham é com o óbvio. O negócio deles – nosso negócio – é lidar com o óbvio. Aparentemente, Deus é muito treteiro, faz as coisas de forma tão recôndita e disfarçada que se precisa desta categoria de gente – os cientistas – para ir tirando os véus, desvendando, a fim de revelar a obviedade do óbvio. O ruim deste procedimento é que parece um jogo sem fim. De fato, só conseguimos desmascarar uma obviedade para descobrir outras, mais óbvias ainda.

Para começar, antes de entrar na obviedade educacional – que é nosso tema – vejamos algumas outras obviedades. É óbvio, por exemplo, que todo santo dia o sol nasce, se levanta, dá sua volta pelo céu, e se põe. Sabemos hoje muito bem que isto não é verdade. Mas foi preciso muita astúcia e gana para mostrar que a aurora e o crepúsculo são tretas de Deus. Não é assim? Gerações de sábios passaram por sacrifícios, recordados por todos, porque disseram que Deus estava nos enganando com aquele espetáculo diário. Demonstrar que a coisa não era como parecia, além de muito difícil, foi penoso, todos sabemos.

Outra obviedade, tão óbvia quanto esta ou mais óbvia ainda, é que os pobres vivem dos ricos. Está na cara? Sem os ricos o que é que seria dos pobres? Quem é que poderia fazer uma caridade? Me dá um empreguinho aí! Seria impossível arranjar qualquer ajuda. Me dá um dinheirinho aí! Sem rico o mundo estaria incompleto, os pobres estariam perdidos. Mas vieram uns Barbados dizendo que não, e atrapalharam tudo. Tiraram aquela obviedade e puseram outra oposta no lugar. Aliás, uma obviedade subversiva.

Uma terceira obviedade que vocês conhecem bem, por ser patente, é que os negros são inferiores aos brancos. Basta olhar! Eles fazem um esforço danado para ganhar a vida, mas não ascendem como a gente. Sua situação é de uma inferioridade social e cultural tão visível, tão evidente, que é óbvia. Pois não é assim, dizem os cientistas. Não é assim, não. É diferente! Os negros foram inferiorizados. Foram e continuam sendo postos nessa posição de inferioridade por tais e quais razões históricas. Razões que nada têm a ver com suas capacidades e aptidões inatas mas, sim, tendo que ver com certos interesses muito concretos.

A quarta obviedade, mais difícil de admitir – e eu falei das anteriores para vocês se acostumarem com a idéia – a quarta obviedade, é a obviedade doída de que nós, brasileiros, somos um povo de segunda classe, um povo inferior, chinfrin, vagabundo. Mas tá na cara! Basta olhar! Somos 100 anos mais velhos que os estadunidenses, e estamos com meio século de atraso com relação a eles. A verdade, todos sabemos, é que a colonização da América no Norte começou 100 anos depois da nossa, mas eles hoje estão muito adiante. Nós, atrás, trotando na história, trotando na vida. Um negócio horrível, não é? Durante anos, essa obviedade que foi e continua sendo óbvia para muita gente nos amargurou. Mas não conseguíamos fugir dela, ainda não.

A própria ciência, por longo tempo, parecia existir somente para sustentar essa obviedade. A Antropologia, minha ciência, por exemplo, por demasiado tempo não foi mais do que uma doutrina racista, sobre a superioridade do homem branco, europeu e cristão, a destinação civilizatória que pesava sobre seus ombros como um encargo histórico e sagrado. Nem foi menos do que um continuado esforço de erudição para comprovar e demonstrar que a mistura racial, a mestiçagem, conduzida a um produto híbrido inferior, produzindo uma espécie de gente-mula, atrasada e incapaz de promover o progresso. Os antropólogos, coitados, por mais de um século estiveram muito preocupados com isso, e nós, brasileiros, comemos e bebemos essas tolices deles durante décadas, como a melhor ciência do mundo. O próprio Euclides da Cunha não podia dormir porque dizia que o Brasil ou progredia ou desaparecia, mas perguntava: como progredir, com este povo de segunda classe? Dom Pedro II, imperador dos mulatos brasileiros, sofria demais nas conversas com seu amigo e afilhado Gobineau, embaixador da França no Brasil, teórico europeu competentíssimo da inferioridade dos pretos e mestiços.

O mais grave, porém, é que além de ser um povo mestiço – e, portanto, inferior e inapto para o progresso – nós somos também um povo tropical. E tropical não dá! Civilização nos trópicos, não dá! Tropical, é demais. Mas isto não é tudo. Além de mestiços e tropical, outra razão de nossa inferioridade evidente – demonstrada pelo desempenho histórico medíocre dos brasileiros – além dessas razões, havia a de sermos católicos, de um catolicismo barroco, não é? Um negócio atrasado, extravagante, de rezar em latim e confessar em português.

Pois além disso tudo a nos puxar para trás, havia outras forças, ainda piores, entre elas, a nossa ancestralidade portuguesa. Estão vendo que falta de sorte? Em lugar de avós ingleses, holandeses, gente boa, logo portugueses... Lusitanos! Está na cara que este país não podia ir para frente, que este povo não prestava mesmo, que esta nação estava mesmo condenada: mestiços, tropicais, católicos e lusitanos é dose para elefante.

Bom, estas são as obviedades com que convivemos alegre ou sofridamente por muito tempo. Nos últimos anos, porém, descobrimos meio assombrados – descoberta que só se generalizou aí pelos anos 50, mais ou menos – descobrimos realmente ou começamos a atuar como quem sabe, afinal, que aquela óbvia inferioridade racial inata, climático-telúrica, asnal-lusitana e católico-barroca do brasileiro, era como a treta diária do sol que todo dia faz de conta que nasce e se põe. Havíamos descoberto, com mais susto do que alegria, que à luz das novas ciências, nenhuma daquelas teses se mantinha de pé. Desde então, tornando-se impossível, a partir delas, explicar confortavelmente todo o nosso atraso, atribuindo-o ao povo, saímos em busca de outros fatores ou culpas que fossem as causas do nosso fraco desempenho neste mundo.

Nesta indagação – vejam como é ruim questionar! – acabamos por dar uma virada prodigiosa na roleta da ciência. Ela veio revelar que aquela obviedade de sermos um povo de segunda classe não podia mesmo se manter, porque escondia uma outra obviedade mais óbvia ainda. Esta nova verdade nos assustou muito, levamos tempo para engolir a novidade. Sobretudo nós, bonitos. Falo da descoberta de que a causa real do atraso brasileiro, os culpados de nosso subdesenvolvimento somos nós mesmos, ou melhor, a melhor parte de nós mesmos: nossa classe dominante e seus comparsas. Descobrimos também, com susto, à luz dessa nova obviedade, que realmente não há país construído mais racionalmente por uma classe dominante do que o nosso. Nem há sociedade que corresponda tão precisado aos interesses de sua classe dominante como o Brasil.

Assim é que, desde então, lamentavelmente, já não há como negar dois fatos que ficaram ululantemente óbvios. Primeiro, que não é nas qualidades ou defeitos do povo que está a razão do nosso atraso, mas nas características de nossas classes dominantes, no seu setor dirigente e, inclusive, no seu segmento intelectual. Segundo, que nossa velha classe tem sido altamente capaz na formulação e na execução de projeto de sociedade que melhor corresponde a seus interesses. Só que este projeto para ser implantado e mantido precisa de um povo faminto, chucro e feio.

Nunca se viu, em outra parte, ricos tão capacitados para gerar e desfrutar riquezas, e para sub-julgar o povo faminto no trabalho, como os nossos senhores empresários, doutores e comandantes. Quase sempre cordiais uns para com os outros, sempre duros e implacáveis para com subalternos, e insaciáveis na apropriação dos frutos do trabalho alheio. Eles tramam e retramam, há séculos, a malha estreita dentro da qual cresce, deformado, o povo brasileiro. Deformado e constrangido e atrasado. E assim é, sabemos agora, porque só assim a velha classe pode manter, sem sobressaltos, este tipo de prosperidade de que ela desfruta, uma prosperidade jamais generalizável aos que a produzem com o seu trabalho, mas uma prosperidade sempre suficiente para reproduzir, geração após geração, a riqueza, a distinção e a beleza de nossos ricos, suas mulheres e filhos.

Por esta razão, é que a segunda parte desta minha fala será o elogio da classe dominante brasileira. O que aspiramos, objetivamente, é retratá-la aqui em toda a sua alta competência. Mais até do que competente, acho que ela é façanhuda, porque fez coisas tão admiráveis e únicas ao longo dos século, que merece não apenas nossa admiração, mas também nosso espanto.

A primeira evidência a ressaltar é que nossa classe dominante conseguiu estruturar o Brasil como uma sociedade de economia extraordinariamente próspera. Por muito tempo se pensou que éramos e somos um país pobre, no passado e agora. Pois não é verdade. Esta é uma falsa obviedade. Éramos e somos riquíssimos! A renda per capita dos escravos de Pernambuco, da Bahia e de Minas Gerais – eles duravam em média uns cinco anos no trabalho – mas a renda per capita dos nossos escravos era, então, a mais alta do mundo. Nenhum trabalhador, naqueles séculos, na Europa ou na Ásia, rendia em libras – que eram os dólares da época – como um escravo trabalhando num engenho no Recife; ou lavrando ouro em Minas Gerais; ou, depois, um escravo, ou mesmo um imigrante italiano, trabalhando num cafezal em São Paulo. Aqueles empreendimentos foram um sucesso formidável. Geraram além de um PIB prodigioso, uma renda per capita admirável. Então, como agora, para uso e gozo de nossa sábia classe dominante.

A verdade verdadeira é que, aqui no Brasil, se inventou um modelo de economia altamente próspera, mas de prosperidade pura. Quer dizer, livre de quaisquer comprometimentos sentimentais. A verdade, repito, é que nós, brasileiros, inventamos e fundamos um sistema social perfeito para os que estão do lado de cima da vida. Senão, vejamos. O valor da exportação brasileira no século XVII foi maior que o da exportação inglesa no mesmo período. O produto mais nobre da época era o açúcar. Depois, o produto mais rendoso do mundo foi o ouro de Minas Gerais que multiplicou várias vezes a quantidade de ouro existente no mundo. Também, então, reinou para os ricos uma prosperidade imensa. O café, por sua vez, foi o produto mais importante do mercado mundial até 1913, e nós desfrutamos, por longo tempo, o monopólio dele. Nestes três casos, que correspondem a conjunturas quase seculares, nós tivemos e desfrutamos uma prosperidade enorme. Depois, por algumas décadas, a borracha e o cacau deram também surtos invejáveis de prosperidade que enriqueceram e dignificaram as camadas proprietárias e dirigentes de diversas regiões. O importante a assinalar é que, modéstia à parte, aqui no Brasil se tinha inventado ou ressuscitado uma economia especialíssima, fundada num sistema de trabalho que, compelindo o povo a produzir, o que ele não consumia – produzir para exportar – permitia gerar uma prosperidade não generosa, ainda que propensa desde então, a uma redistribuição preterida.

Enquanto isso se fez debaixo dos sólidos estatutos da escravidão, não houve problema. Depois, porém, o povo trabalhador começou a dar trabalho, porque tinha de ser convencido na lei ou na marra, de que seu reino não era para agora, que ele verdadeiramente não podia nem precisava comer hoje. Porém o que ele não come hoje, comerá acrescido amanhã. Porque só acumulando agora, sem nada desperdiçar comendo, se poderá progredir amanhã e sempre. O povão, hoje como ontem, sempre andou muito desconfiado de que jamais comerá depois de amanhã o feijão que deixou de comer anteontem. Mas as classes dominantes e seus competentes auxiliares, aí estão para convencer a todos – com pesquisas, programas e promoções – de que o importante é exportar, de que é indispensável e patriótico ter paciência, esperem um pouco, não sejam imediatistas. O bolo precisa crescer; sem um bolo maior – nos dizem o Delfim lá de Paris e o daqui – sem um bolo acrescido, este país estará perdido. É preciso um bolo respeitável, é indispensável uma poupança ponderável, uma acumulação milagrosa para que depois se faça, amanhã, prodigiosamente, a distribuição.

Bem, esta classe dominante promotora da prosperidade restrita e do progresso contido, realizou verdadeiras façanhas com sua extraordinária habilidade. A primeira foi a própria Independência do Brasil, que se deu, de fato, antes de qualquer outra na América Latina, pois ocorreu no momento em que Napoleão enxotava a família real de Portugal. Com ela saem de Lisboa 15.000 fâmulos. Imaginem só o que representou isto como empreendimento? Não falo de epopéia de transladar esta multidão de gentes para além-mar, - afinal, mais negros se importava todo ano. Falo da invasão do Brasil por 15.000 pessoas das famílias nobres de Portugal. Foi como refundar o país, pelo menos o país dominante.

Com eles nos vinha, de graça, toda aquela secular sabedoria política lusitana de viver e sobreviver ao lado dos espanhóis, sem conviver nem brigar com eles. Toda aquela sagacidade burocrática, toda aquela cobiça senhorial com seu espantoso apetite de enricar e de mandar. Portugal, em sua generosidade, nos legava, na hora do declínio, sua nobreza mais nobre. Aquela cujo luxo já estávamos habituados a pagar, para ela aqui continuar regendo uma sociedade confortável! para si própria como o fora o velho reino, e até mais próspera.
O resultado imediato desta transladação da sabedoria classista portuguesa foi a capacidade, prontamente revelada, pela velha classe dominante – agora nova e nossa – em episódios fundamentais. Primeiro o de resguardar a unidade nacional que foi o seu grande feito. Tanto mais em relação ao que sucedeu à América Espanhola que, sem-rei-nem-lei se balcanizou rapidamente. O Brasil, que estava também dividido em regiões e administrações coloniais igualmente diferenciadas, conseguiu, graças a essa sabedoria, preservar sua unidade para surgir ao mundo com as dimensões gigantescas de que tanto nos orgulhamos hoje.

A outra façanha da velha classe, foi sua extraordinária capacidade de enfrentar e vencer todas as revoluções sociais que se desencadearam no país. Essa eficiência repressiva lhes permitia esmagar todos os que reclamavam o alargamento das bases da sociedade, para que mais gente participasse do produto do trabalho e, assim, reafirmar e consolidar sua hegemonia. Posteriormente, coroaram tal feito com outro ainda maior, que foi o de escrever a história dessas lutas sociais como se elas fossem motins.

Recentemente descobrimos, outra vez assustados – desta vez graças às perquirições de José Honório – que o Brasil não é tão cordial como quereria o nosso querido Sérgio. Durante o período das revoltas sociais anteriores e seguintes à Independência, morreram no Brasil mais de 50 mil pessoas, inclusive uns sete padres enforcados. O certo é que nossos 50 mil mortos são muitos mais mortos do que todos que morreram nas lutas de independência da América Espanhola, tidas como das mais cruentas da história. Os nossos, porém, foram surrupiados da história oficial das lutas sociais por serem vítimas de meros motins, revoltas e levantes e, como tal, não merecem entrar na crônica historiográfica séria da sabedoria classista.

Além destas grandes façanhas, nossa classe dominante acometeu tarefas gigantescas com uma sabedoria crescente, que eu tenho o dever de assinalar nesta louvação. Façanha sobremodo admirável, foi a nossa Lei de Terras, aprovada em 1850, quer dizer, 10 anos antes da América do Norte estatuir o homestead, que é a lei de terras lá deles.

A lei brasileira não só foi anterior, como muito mais sábia. Sua sagacidade se revela inteira na diferença de conteúdo social com respeito à legislação da América do Norte, bem demonstrativo da capacidade da nossa classe dominante para formular e instituir a racionalidade que mais convém à imposição de seus altos interesses. A classe dominante brasileira inscreve na Lei de Terras um juízo muito simples: a forma normal de obtenção da prioridade é a compra. Se você quer ser proprietário, deve comprar suas terras do Estado ou de quem quer que seja, que as possua a título legítimo. Comprar! É certo que estabelece generosamente uma exceção carterial: o chamado usucapião. Se você puder provar, diante do escrivão competente, que ocupou continuadamente, por 10 ou 20 anos, um pedaço de terra, talvez consiga que o cartório o registre como de sua propriedade legítima. Como nenhum caboclo vai encontrar esse cartório, quase ninguém registrou jamais terra nenhuma por esta via. Em conseqüência, a boa terra não se dispersou e todas as terras alcançadas pelas fronteiras da civilização, foram competentemente apropriadas pelos antigos proprietários que, aquinhoados, puderam fazer de seus filhos e netos outros tantos fazendeiros latifundiários.

Foi assim, brilhantemente, que a nossa classe dominante conseguiu duas coisas básicas: se assegurou a propriedade monopolística da terra para suas empresas agrárias, e assegurou que a população trabalharia docilmente para ela, porque só podia sair de uma fazenda para cair em outra fazenda igual, uma vez que em lugar nenhum conseguiria terras para ocupar e fazer suas pelo trabalho.

A classe dominante norte-americana, menos previdente e quiçá mais ingênua, estabeleceu que a forma normal de obtenção de propriedade rural era a posse e a ocupação das terras por quem fosse para o Oeste – como se vê nos filmes de faroeste. Qualquer pioneiro podia demarcar cento e tantos acres e ali se instalar com a família, porque só o fato de morar e trabalhar a terra fazia propriedade sua. O resultado foi que lá multiplicou um imenso sistema de pequenas e médias propriedades que criou e generalizou para milhões de modestos granjeiros uma prosperidade geral. Geral mas medíocre, porque trabalhadas por seus próprios donos, sem nenhuma possibilidade de edificar Casas-grandes & Senzalas grandiosas como as nossas. É notório que aqui foram melhor preservados os interesses da classe dominante que graças à sua previdência, pôde viver e legar com prosperidade e exuberância. Em conseqüência, os ricos daqui vivem uma vida muito mais rica do que os ricos de lá, comendo melhor, servidos por uma famulagem mais ampla e carinhosa. Como se vê, tudo foi feito com muito mais sabedoria, prevendo-se até a invenção da mucama que nos amamentaria de leite e de ternura.

O alto estilo da classe dominante brasileira só se revela, porém, em toda a sua astúcia na questão da escravidão. A Revolução Industrial que vinha desabrochando trazia como novidade maior tornar inútil, obsoleto, o trabalho muscular como fonte energética. A civilização já não precisava mais se basear no músculo de asnos e de homens. Agora tinha o carvão, que podia queimar para dar energia, depois viriam a eletricidade e, mais tarde, o petróleo. Isso é o que a Revolução Industrial deu ao mundo. Mas os senhores brasileiros, sabiamente, ponderaram: - Não! Não é possível, com tanto negro à toa aqui e na África, podendo trabalhar para nós, e assim, ser catequizado e salvo, seria uma maldade trocá-los por carvão e petróleo. Dito e feito, o Brasil conseguiu estender tanto o regime escravocrata, que foi o último país do mundo a abolir a escravidão.

O mais assinalável, porém, como demonstração de agudeza senhorial, é que ao extingui-la, o fizemos mais sabiamente que qualquer outro país. Primeiro, libertamos os donos da onerosa obrigação de alimentar os filhos dos escravos que seriam livres. Hoje festejamos este feito com a Lei do Ventre-Livre. Depois, libertamos os mesmos donos do encargo inútil de sustentar os negros velhos que sobreviveram ao desgaste no trabalho, comemorando também este feito como uma conquista libertária. Como se vê, estamos diante de uma classe dirigente armada de uma sabedoria atroz.

Com a própria industrialização, no passado e no presente, conseguimos fazer treta. Nisto parecemos deuses gregos. A treta, no caso, consistiu em subverter sua propensão natural, para não desnaturar a sociedade que a acolhia. A industrialização, que é sabidamente um processo de transformação da sociedade de caráter libertário, entre nós se converteu num mecanismo de recolonização. Primeiro, com as empresas inglesas, depois com as yankees e, finalmente, com as ditas multinacionais. O certo é que o processo de industrialização à brasileira consistiu em transformar a classe dominante nacional de uma representação colonial aqui sediada, numa classe dominante gerencial, cuja função agora é recolonizar país, através das multinacionais. Isto é também uma façanha formidável, que se está levando a cabo enorme elegância e extraordinária eficácia.

A eficácia total, entretanto, eficácia diante da qual devemos nos declinar – aquela que é realmente o grande feito que nós, brasileiros, podemos ostentar diante do mundo como único – é a façanha educacional da nossa classe dominante. Esta é realmente extraordinária! E por isto é que eu não concordo com aqueles que, olhando a educação desde outra perspectiva, falam de fracasso brasileiro no esforço por universalizar o ensino. Eu acho que não houve fracasso algum nesta matéria, mesmo porque o principal requisito de sobrevivência e de hegemonia da classe dominante que temos era precisamente manter o povo chucro. Um povo chucro, neste mundo que generaliza tonta e alegremente a educação, é, sem dúvida, fenomenal. Mantido ignorante, ele não estará capacitado a eleger seus dirigentes com riscos inadmissíveis de populismo demagógico. Perpetua-se, em conseqüência, a sábia tutela que a elite educada, ilustrada, elegante, bonita, exerce paternalmente sobre as massas ignoradas. Tutela cada vez mais necessária porque, com o progresso das comunicações, aumentam dia-a-dia os riscos do nosso povo se ver atraído ao engodo comunista ou fascista, ou trabalhista, ou sindical, ou outro. Assim se vê o equívoco em que recai quem trata como fracasso do Brasil em educar seu povo o que de fato foi uma façanha. Pedro II, por exemplo, nosso preclaro imperador, nunca se equivocou a respeito. Nos dias que a Argentina, o Chile e o Uruguai generalizavam a educação primária dentro do espírito de formar cidadãos para edificar a nação, naquelas eras, nosso sábio Pedro criava duas únicas instituições educacionais: o Instituto de Surdos e Mudos, e o Instituto Imperial dos Cegos. Aliás, diga-se de passagem, o segundo deles, mais tarde, por mãos de outro Pedro monárquico – o Calmon – passou a servir de sede – é um edifício muito bonito – à reitoria da então chamada Universidade do Brasil. Antes tiraram os cegos de lá, naturalmente.

Duas são as vias históricas de popularização do ensino elementar. Primeiro, a luterana, que se dá com a conversão da leitura da Bíblia no supremo ato de fé. Disto resulta um tipo de educação comunitária em que cada população local, municipal, trabalhada pela Reforma, faz da igreja sua escola e ensina ali a rezar, ou seja, a ler. Esta é a educação que generalizou na Alemanha e, mais tarde, nos Estados Unidos, como educação comunitária.
A outra forma de generalização do ensino primário foi a cívica, napoleônica, promovida pelo Estado, fruto da Revolução Francesa, que se dispôs a alfabetizar os franceses para deles fazer cidadãos. Aqueles franceses todos, divididos em bretões, flamengos, occipitães, etc., aquela quantidade de gente provinciana, falando dialetos atravancados, não agravada a Napoleão. Ele inventou, então, esta coisa formidavelmente simples, que é a escola pública regida por uma professorinha primária, preparada num internato, para a tarefa de formar cidadãos. Foi ela, com o giz e o quadro-negro, que desasnou os franceses, e desasnando, os faz cidadãos, ao mesmo tempo em que generalizava a educação.

Como se vê, temos duas formas básicas de promover a educação popular: uma, religiosa, que é comunitária, municipal; outra, cívica, que é estatal e, em conseqüência, federal. O Brasil, com os dois pedros imperiais, e todos os presidentes civis e todos os governantes militares e que os sucederam de então até hoje, apesar de católico, adota forma comunitária luterana. Ou seja, entrega a educação fundamental exatamente aos menos interessados em educar o povo, ao governo municipal e ao estadual.

Pois bem, prestem atenção, e se edifiquem com a sabedoria que os nossos maiores revelam neste passo: ao entregar a educação primária exatamente àqueles que não queriam educar ninguém – porque achavam uma inutilidade ensinar o povo a ler, escrever e contar – ao entregar exatamente a eles – ao prefeito e ao governador – a tarefa de generalizar a educação primária, a condenavam ao fracasso, tudo isso sem admitir, jamais, que seu imposto era precisamente este.

O professor Oracy Nogueira nos conta que a nobre vila de Itapetininga, ilustre cidade de São Paulo, em meados do século passado, fez um pedido veemente a Pedro Dois: queria uma escola de primeiras letras. E a queria com fervor, porque ali – argumentava – havia vários homens bons, paulistas de quatro e até de quarenta costados, e nenhum deles podia servir na Câmara Municipal, porque não sabiam assinar o nome. Queria uma escola de alfabetização para fazer vereador, não uma escola para ensinar todo o povo a ler, escrever e contar. Vejam a diferença que há entre a nossa orientação educacional e as outras tradições. Aqui, sabiamente, uma vila quer e pede escola, mas não quer rezar, nem democratizar, o que deseja é formar a sua liderança política, é capacitar a sua classe dominante sem nenhuma idéia de generalizar a educação.

Como não admirar a classe desta nossa velha classe que no caso da terra, adota uma solução oposta à granjeira norte-americana; e no caso da educação, adota exatamente a solução comunitária yankee... Varia nos dois casos para não variar. Isto é, para continuar atendendo aos seus dois interesses cruciais: a apropriação latifundiária da terra e a santa ignorância popular.

Mas a amplitude de critérios não pára aí, visto que para o ensino superior se fez o contrário. A escola superior, e não a primária, é que foi estruturada no Brasil segundo uma orientação napoleônica. Como os franceses, criamos uma universidade que não era universidade, mas um conglomerado de escolas autárquicas. Napoleão precisou fazer isto, talvez, para liquidar a vetustez da universidade medieval, porque ela estava dominada, contaminada, impregnada da teologia de então. Era preciso romper aquele quadro medieval para progredir. Para isto, a burguesia criou as grandes escolas nacionais, formadoras de profissionais, advogados, médicos, engenheiros, assépticos de qualquer teologismo.

O Brasil não tinha tido uma universidade. Começa pelas grandes escolas. Recorde-se que as dezenas de universidades do mundo hispano-americano foram criadas a partir de 1.550, formando ( ) . No Brasil, quem tinha dinheiro para educar o filho em nível superior, mandava-o para Coimbra. Como eram poucos os abastados, em todo o período colonial, apenas conseguimos formar uns 2.800 bacharéis e médicos. Isto significa que, por ocasião da Independência, devia haver, se tanto, uns 2.000 brasileiros com formação superior, aspirando a cargos e mordomias. Havia, por conseqüência, um vasto lugar para aqueles 15.000 fâmulos reais que caíram sobre o Rio de Janeiro, a Bahia e o Recife, convertendo-se, rapidamente, no setor hegemônico da classe dominante, classe dirigente, do país, logo aquinhoada com sesmarias latifundiárias e vasta escravista.

O Brasil cria as suas primeiras escolas depois do desembarque da Corte. E as cria para formar um famulário local. Mas as organiza segundo o modelo napoleônico, federal e não municipalmente. Elas nascem como criações do governo central, estruturadas em escolas superiores autárquicas que não queriam ser aglutinadas em universidades. Nossa primeira universidade, só se ( ) em 1.923. E se cria por decreto, por uma razão muito importante, ainda que extra-educacional: o rei da Bélgica visitava o Brasil, e o Itamarati devia dar a ele o título de Doutor Honoris causa. Não podendo honrar ao reizinho como o protocolo recomendava, porque não tínhamos uma universidade, criou-se para isto a Universidade do Brasil. Assim, Leopoldo se fez doutor aqui também. Assim foi criada a primeira universidade brasileira. Uma universidade que, desde então, se vem estruturando e desestruturando, como se sabe.

Mas o modelo se multiplicou prodigiosamente como os peixes do Senhor. Hoje contamos com mais centena de universidade e milhares de cursos superiores onde já estuda mais de um milhão de jovens. São tantos, que já há quem diga que nossas universidades enfrentam uma verdadeira crise de crescimento, asseverando mesmo que seu problema decorre de haver matriculado gente demais. Teriam elas crescido com tanta demasia que, agora, não podendo digerir o que têm na barriga, jibóiam. Eu acho que o conceito de crise-de-crescimento não expressa bem o fenômeno. Nosso caso é outro. O que ocorre com a universidade no Brasil é mais ou menos o que sucederia com uma vaca se, quando bezerra, ela fosse encerrada numa jaula pequenina. A vaca mesmo está crescendo naturalmente, mas a jaula de ferro aí está, contendo, constringindo. Então o que cresce é um bicho raro, estranho. Este bicho nunca visto é o produto, é o fruto, é a flor acadêmica dessa classe dominante sábia, preclara, admirável que temos, que nos serve e a que servimos patrioticamente contritos. Cremos haver demonstrado até aqui que no campo da educação é que melhor se concretiza a sabedoria das nossas classes dominantes e sua extraordinária astúcia na defesa de seus interesses. De fato, uma minoria tão insignificante e tão claramente voltada contra os interesses da maioria, só pode sobreviver e prosperar contando com enorme sagacidade, enorme sabedoria, que é preciso compreender e proclamar.

Sua última façanha neste terreno, sobre a qual, aliás muito se comenta – às vezes, até de forma negativa – foi a mobralização da nossa educação elementar. A nosso ver, o MOBRAL é uma obra maravilhosa de previdência e sabedoria. Com efeito, é a solução perfeita. Quem se ocupe em pensar um minuto que seja sobre o tema, verá que é óbvio que quem acaba com o analfabetismo adulto é a morte. Esta é a solução natural. Não se precisa matar ninguém, não se assustem! Quem mata é a própria vida, que traz em si o germe da morte. Todos sabem que a maior parte dos analfabetos está concentrada nas camadas mais velhas e mais pobres da população. Sabe-se, também, que esse pessoal vive pouco, porque come pouco. Sendo assim, basta esperar alguns anos e se acaba com o analfabetismo. Mas só se acaba com a condição de que não se produzem novos analfabetos. Para tanto, tem-se que dar prioridade total, federal, à não-produção de analfabetos. Pegar, caçar (com e cedilha) todos os meninos de sete anos para matricular na escola primária, aos cuidados de professores capazes e devotados, a fim de não mais produzir analfabetos. Porém, se se escolarizasse a criançada toda, e se o sistema continuasse matando os velhinhos analfabetos com que contamos, aí pelo ano 2.000 não teríamos mais um só analfabeto. Percebem agora onde está o nó da questão?

Graças ao MOBRAL estamos salvos! Sem ele a classe dominante estaria talvez perdida. Imagine-se o ano 2.000, sem analfabetos no Brasil! Seria um absurdo! Não, graças à previdência de criar para alfabetizar um órgão que não alfabetiza, de não gastar os escassos recursos destinados à educação onde se deveria gastar, de não investir onde se deveria investir – se o propósito fosse generalizar a educação primária – podemos contar com a garantia plena de que manteremos crescente o número absoluto de analfabetos de nosso país.

Também edificante, no caso do MOBRAL, é ele se haver convertido numa das maiores editoras do mundo. Com efeito, a tiragem de suas edições se conta por centenas de milhões. É espantoso, mas verdadeiro: neste nosso Brasil, se não são os analfabetos os que mais lêem, é a eles que se destina a maior parte dos livros, folhetins, livrinhos coloridos que se publica oficialmente, maravilhoso, em quantidades astronômicas. Pode-se mesmo afirmar que o maior empreendimento eleitoral – eleitoral, não editorial – do país é o MOBRAL, como instituição educativa e como co-editora.

Naturalmente que há nisto implicações. Uma delas, a originalidade ou o contraste que faremos no ano 2.000. Então, todas as nações organizadas para si mesma s e que vivem como sociedades autônomas, estarão levando a quase totalidade da sua juventude às escolas de nível superior. Neste momento, nos estados Unidos, mais de 70% dos jovens já estão ingressando nos cursos universitários. Cuba, mesmo, - os cubanos são muito pretenciosos – está prometendo matricular toda a sua juventude nas universidades. Primeiro, eles tentaram generalizar o ensino primário. Conseguiram. Generalizaram, depois, o secundário. Agora, ameaçam universalizar o superior. Parece que já no próximo ano todos os jovens que terminam os seis anos de secundário entrarão para a universidade. É claro para isso, a universidade teve de ser totalmente transformada. Desenclaustrada.

Meditem um pouco sobre este tema e imaginem o efeito turístico que terá, num mundo em que todos tenham feito curso superior, um Brasil com milhões de analfabetos... Pode ser um negócio muito interessante, não é? Sobretudo se eles continuarem com essas caras tristonhas que tem, com esse ar subnutrito que exibem e que não existirá mais neste mundo. O Brasil poderá então ser de fato, o país do turismo, o único lugar do mundo onde se poderá ver coisas assim, de outros tempos, coisas raras, fenomenais, extravagantes. Em conseqüência, a crise educacional do Brasil da qual tanto se fala, não é uma crise, é um programa. Um programa em curso, cujos frutos, amanhã, falarão por si mesmos.

Edgar Morin

Para os que gostam de Edgar Morin, vale a pena conferir o site abaixo:

http://www.edgarmorin.org.br/

É isso...

Medos

Às vezes somos levados a refletir sobre vários assuntos. Foi o que aconteceu, hoje, comigo. Li a reportagem "Você tem coragem?", da Vida Simples, e a partir dela fiz algumas conclusões.
Não dá para falar de medo sem mencionar o termo coragem. Digamos que essa qualidade anda meio esquecida.
De fato, o medo sempre nos perseguirá. Certo disso, nosso comportamento deve ser guiado pela coragem. Todos somos conhecedores de nossos medos. Para vencê-lo, muito há de ser feito. Mas engana-se quem o entende como um impeditivo para novas ações.
O medo, também, é capaz de gerar comportamentos positivos. Com ele, adquirimos cautela. A partir dele, refletimos nossas atitudes. E a ele, vencemos.
O medo, ao contrário do que muitos pensam, não só limita como instiga. Não à derrota. É claro! Mas ao desafio de ultrapassá-lo.
A verdade é que para cada medo, há uma coragem. E dessa coragem, fazem-se grandes revoluções, jamais esquecidas por nós.
Para conferir a reportagem, acessem:

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Retorno

Estou em dívida com os meus leitores. É bem verdade que muitas coisas aconteceram neste meio tempo. Mas estou de volta. Aos poucos, retornarei a escrever meus desabafos, minhas críticas e por que não minhas histórias?

É isso...

sexta-feira, 1 de maio de 2009

As primeiras jamais esquecemos


Hoje, revisitei as minhas primeiras reportagens. O susto não foi grande. Para os que se interessaram, aí vai:

Um olhar feminino sobre a Penha

Você já imaginou conhecer a Penha de uma outra maneira? Regyna Santos, Janaina Lobate e Andréia Bazzo fotografaram o bairro sob um novo olhar - o feminino. O terceiro trabalho do trio registra o cotidiano penhense de forma espontânea.
As três se conheceram em um curso de fotografia. Reuniram-se pelo prazer de fotografar, cada uma a sua maneira e sensibilidade. Elas não vivem apenas das fotos, exercem outras profissões. Regyna é enfermeira, Janaína trabalha na área de propaganda e marketing e Andréia é formada em matemática.
Regyna conta que a nova lei municipal, “Cidade Limpa”, permitiu revitalizar a riqueza arquitetônica da Penha, porém revela a deterioração desse patrimônio. Em uma de suas fotos revela o estilo barroco, antes escondido. Os relevos, a face humana, o entrelaçamento da arquitetura com a escultura. Os efeitos decorativos e visuais predominam em uma das fachadas registradas por Regyna. Sua intenção é fazer com que o cidadão penhense preste atenção e valorize seu bairro.
Já para Janaína o trabalho define o olhar estrangeiro que elas imprimiram ao registrar a Penha. “É um olhar de quem está de fora”, explica. “Eu nunca imaginei que o passado e o presente, o sagrado e o profano pudessem se misturar com tanta harmonia”, complementa. Janaína fotografou a Basílica da Penha por dentro. Na sua arquitetura, nota-se o uso de vitrais, a presença de arcos e rosáceas. Captou também o momento em que sol irradia o seu interior, iluminando a sua entrada. Janaína não seguiu um roteiro. “Me deixei levar”, expõe. Ela consegue mostrar a religiosidade penhense. “A fé une os moradores da Penha em meio à correria do dia-a-dia”, concluí.
O aspecto humano foi abordado por Andréia. Em uma de suas fotos, é possível perceber o contraste da modernidade do metrô e o conservadorismo da religiosidade na Penha. O momento em que as pessoas chegam ao seu destino é captado pelo clique da máquina. São sombras de inúmeros rostos, permitindo-nos apenas distinguir seus contornos. Da estação visualiza-se a Basílica. Andréia descobriu em suas visitas que a união dos moradores se confirma na necessidade que sentem em preservar sua identidade. Sua intenção é saber o que as pessoas pensam enquanto esperam o metrô, o que a Igreja representa em suas vidas e como elas conciliam o conservadorismo com a modernidade.
Suas fotos sobre o bairro revelam sobretudo a Penha que também existe dentro delas mesmas.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

by Internet


















Sonhos

O mundo fica preto e branco

Quadros em uma sala vazia

Seu amor começa a se despedaçar

Melhor mudar sua atitude

Você quer o anel dourado

Você quer o céu Baby, apenas abra suas asas

Nós iremos cada vez mais alto

Direto para cima nós iremos

Nós iremos cada vez mais alto

Deixe tudo para trás

Corra, corra, fuja

Como um trem correndo fora dos trilhos

A verdade sendo deixada para trás

E cai sobre os escombros

Agarrando-se em sonhos destruídos

Nunca perdendo a vista, ah

Bom, apenas abra suas asas

Então, baby, seque seus olhos

Poupe as lágrimas que você tem chorado

Oh, é disso que os sonhos são feitos

Porque nós pertencemos a um mundo em que precisamos ser fortes

Oh, é disso que os sonhos são feitos

Yeah, nós iremos cada vez mais alto

Direto para cima nós iremos

Cada vez mais alto

Deixe tudo para trás

Nós iremos cada vez mais alto

Quem sabe o que encontraremos?

E no fim, dos sonhos dependeremos

Porque é disso que o amor é feito

(Van Halen)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Terra do sonho
Como entender e fazer parte de uma cultura, que não é a sua?

Por Carina Barros

Entrar em um país, que não é o seu, e ali passar um período da vida, para alguns pode ser uma tortura, outros entenderiam como uma aventura. Encarar esta situação parece fácil, mas não é! É como romper o cordão umbilical com a pátria-mãe.
O encontro com uma nova cultura pode trazer um alívio, em momentos de conflitos políticos. Para a chilena Anita Maria Vargas Erceg, 40 anos, atualmente professora de espanhol, a vinda para o Brasil foi quase uma fuga. Expõe: “Fugíamos de uma ditadura, em 1982. Conhecíamos, aqui, no Brasil, duas pessoas, apenas”.
Esses confrontos, muitas vezes, trazem barreiras para a adaptação em um novo país. Mário Geremias, 50 anos, padre e coordenador da Pastoral do Imigrante da Igreja Nossa Senhora da Paz, no Glicério, alerta: “Depois do 11 de setembro, o imigrante, que antes era o ‘amigo da pátria’, pois trazia consigo o desejo de construir a América, hoje, é considerado um inimigo”. Para ele, este cidadão é marginalizado, pois “muitas vezes o enxergam como uma ameaça, que causa violência e desemprego”. Esse conceito altera-se para etnias mais antigas como a dos japoneses, que comemorou este ano o centenário de sua imigração, em São Paulo. A ilegalidade é outro obstáculo para essa sociabilização. “A documentação é uma conquista, que propícia essa integração”, aponta o padre.

Memória Traçada

Na tentativa de reconstruir sua pátria, pessoas comuns acabam por retornar muitas vezes ao seu país de origem, porém não são todas que podem reorganizar suas vidas. Para isso, procuram estabelecer vínculos neste novo território. Anita mantém o costume de saborear abacate com sal, no pão. Explica: “Não consigo comer o abacate de outra forma, que não seja essa”. A salsa e as músicas latino-americanas são hábitos, também, cultivados por ela. Além, é claro, do próprio idioma: “Passo a maior parte do tempo falando espanhol, principalmente, com a minha filha”. Já, Silvana Mendonza Latorre, 45 anos, uruguaia, veio para o Brasil, pois o trabalho do seu marido exigia essa mudança: “Foi difícil, mas víamos, no Brasil, uma ótima opção”.
Por outro lado, existem as lembranças, que colaboram para preservação da memória de um país. Maria Rosa da Silva Cruz, 81 anos, aposentada, filha de português e neta de italiana, recorda-se de seu pai com muita saudade: “Lembro-me dos passeios de charrete com meu pai, em Ribeirão Preto. Ele me levava em todos os lugares”. Manuel José da Silva veio para o Brasil no início do século 20. Os navios, que chegavam ao Brasil, traziam muitos sonhos. Construir a América, seria um deles: “Meu pai queria se aventurar pelo Brasil”, afirma Maria. Ao chegar aqui, seu pai trabalhava na lavoura. Ordenhava ovelhas e, tão logo, tornou-se serralheiro e carpinteiro. Veio a falecer, quando ela tinha 12 anos.

Identidade e conflitos culturais

Essas histórias apontam caminhos diferentes, percorridos, até mesmo, por personagens importantes da nossa literatura. Mário de Andrade personifica em Macunaíma um brasileiro sem identidade própria. Gilberto Freyre descobre as senzalas e as casas grandes para nos dizer que “todo brasileiro traz na alma e no corpo a sombra do indígena ou do negro”.
A cidade de São Paulo é um exemplo dessa mistura, principal região de atração imigratória, ao longo dos séculos 19 e 20. A Historiografia Tradicional diz que essa imigração em massa foi a forma encontrada para substituir a mão-de-obra escrava, diante da abolição da escravatura, porém omite a tentativa de higienizar a população brasileira por meio do seu “embraquecimento”. São Paulo, então, tornou-se acolhedora, com seus aspectos cosmopolitas. Porém, essa integração não aconteceria, sem antes existir os conflitos culturais. Anita afirma ter presenciado “o choque da falta de cultura”. Complementa: “Quando cheguei aqui, encontrei pessoas analfabetas, que não se preocupavam em utilizar o idioma corretamente”.
Essas diferenças culturais sempre acontecerão. Apesar disso, elas não são maiores do que a solidariedade entre os povos. Ao chegar ao Brasil, Anita morava em uma pensão com seus pais e, logo após, mudou-se para um apartamento. Lá chegando, encontrou o apoio de alguns brasileiros e relembra: “Quando fomos para o apartamento, o moço da ‘perua’ nos doou um fogão, que foi utilizado por 15 anos. A vizinha, de cima, tinha duas panelas e nos deu uma”.
Anita reitera: “Ajudar independe da nacionalidade. Essas pessoas, que nos ajudaram, não nos conheciam. Não pedimos nada, mas elas estavam ali, prontas para nos ajudar”.
Para os orientais, esses conflitos são aparentes. As características físicas geram confusões. Janete Leiko Tanno, descendente de japoneses e historiadora, ressalta: “Somos nipo-brasileiros. No Brasil, somos japoneses. No Japão, somos brasileiros. Temos uma dupla identidade, que se inscreve nessas duas culturas”.

Movimentos Constantes

Ilana Peliciari Rocha, 27 anos, historiadora e professora, estuda a imigração sob um outro ponto de vista, do qual os estudiosos da Historiografia Tradicional, ainda, não se deram conta. São aspectos relacionados à reemigração e ao refluxo. Para ela, o movimento de ida e vinda não pode ser desconsiderado. “A saída desses cidadãos é um movimento, que não pode ser denominado como um fim”.
A historiadora, também, analisou o perfil de vários povos europeus, a partir de 1908, e declara: “Os portugueses retornavam mais rapidamente ao seu país de origem. Os italianos, por sua vez, além de retornar, reemigravam, principalmente, para a Argentina. Os espanhóis reemigravam com mais freqüência”. Justifica: “Esses movimentos aconteciam em família e estavam ligados a fatos sazonais, ora pela colheita, ora pela situação econômica e pela influência do mercado”.
Olhares novos como de Ilana nos possibilita entender melhor as particularidades de uma realidade, que nos parece distante no tempo, mas que, ainda, existe. Contar a História a partir dos grandes eventos oculta a singularidade dos milhares de relatos de pessoas, que colaboraram e colaboram para a compreensão da vida humana.


Peças de um mosaico
A construção de uma identidade coletiva


A história visual de cada sociedade tem a sua importância, na medida em que ela se torna um mecanismo de difusão cultural. “A dinamização cultural, através da fotografia, possibilita o acesso dessa memória à comunidade”, diz Ângela Disessa, fotógrafa, professora e responsável do Projeto “Santu Paulu”.
O Projeto existe desde 2003 e nasceu de uma busca pessoal de suas origens. “Não tive uma convivência com a cultura baresa, apesar dos meus avós serem bareses. Havia vários distanciamentos”, afirma Ângela. Essa procura individual manifestava uma necessidade muito maior, ou seja, uma necessidade coletiva. O trabalho acolhe a memória, em som e imagens, dos descendentes e imigrantes de Polignano a Mare, Puglia (sudeste da Itália) que vivem em São Paulo, conhecidos como “bareses”. Eles se instalaram, principalmente, na região entre a Rua do Gasômetro e o Mercado Municipal, no fim do século 19. Seu acervo conta com 90 horas de depoimentos gravados em áudio e mais de quinhentas fotos familiares digitalizadas e as de autoria da fotógrafa, durante seus 17 anos de trabalho.
“O desejo das pessoas, quando me entregam as fotos, é não morrer”, revela Ângela. Para ela, a principal característica do Projeto é criar uma apropriação da hereditariedade cultural. Reitera: “A tradição se opõe ao conservadorismo, na medida que a sua importância é dar continuidade a essa memória cultural”.
O Projeto se pauta a partir de pesquisas, organização de bancos de dados e divulgação de conteúdos através de workshops, programações culturais, mostras, publicações e propostas de estratégias que dêem visibilidade à memória paulistana/baresa.
Uma das iniciativas da fotógrafa é recriar a narrativa histórica a partir da mulher pugliese. “As mulheres, principalmente as puglieses, contribuem, de uma maneira geral, para a manutenção cultural”. Para ela, há uma vivência muito forte dessas mulheres, que não se articula com lógica racional da Historiografia.
Ângela transformou a sua necessidade em uma busca coletiva, a partir de suas próprias impressões. É como se ela estivesse reconstruindo um enorme mosaico, a sua própria vida.


O chamado interno
Decidir-se pela carreira é decidir a vida

Por Carina Barros

A palavra “casamento”, antigamente, tinha uma conotação diferente da que se tem hoje. Para decisões não muito graves ou para aquelas que poderiam se desfazer, usava-se a prerrogativa de que, o fato em questão não era um casamento. Justificavam-se assim, as re-escolhas. Casar-se, pressupunha uma decisão sem volta. Porém, hoje, casa-se e descasa-se com muita facilidade. Com a profissão não dá para ser assim. Não é uma questão apenas de amar. Depende do saber. Há que se ter condições de conhecer aquilo que se ama.
Não se pode fazer tudo ao mesmo tempo, mas dentre todas as possibilidades, a escolha deve ser por um amor sublime. Supremo. A renúncia existirá. Será somente mais uma, entre tantas. O jovem estudante deve se guiar por aquele chamado interno: a vocação. Esse casamento será para vida inteira e não serão permitidas infidelidades com outras profissões.
Para se atingir o sucesso profissional é fundamental conhecer as qualidades e as características pessoais, baseando-se pela vontade de fazer algo e pelas competências.

Descobertas
Mas como descobrir competências? Este questionamento é muito comum entre os estudantes, principalmente, para aqueles que já concluíram o ensino médio, ou estão próximos de finalizá-los. Algumas instituições educacionais oferecem serviços de orientação profissional. Pedagogos e psicólogos a utilizam. Esta alternativa tem sido muito procurada, em grande parte por adolescentes de 15 e 17 anos. É o que Maysa Yonamine, 17 anos, que está no último ano do ensino médio fará. Turismo e Hotelaria, Comércio Exterior e Psicologia, são as áreas que a despertaram mais. Para ela a orientação abrirá um caminho, onde todas as dúvidas poderão ser discutidas. Além deste serviço, Maysa participa de feiras estudantis, palestras e aproveita para ler sobre várias áreas. “Quero ter uma boa remuneração, pois quero me estabilizar financeiramente. Depois farei aquilo que eu mais gosto”. Esta afirmação se confronta com outras opiniões. Para Ana Patrícia Mota, 18 anos, auxiliar administrativo, que também recorreu à orientação profissional, é possível conciliar as duas coisas, ou seja, pode haver um equilíbrio nesta relação. Ana terminou a sua orientação profissional e está em dúvida entre Jornalismo e Administração de Empresas. Esta dúvida persiste, pois o Jornalismo é algo com que ela se identifica. Já a área de Administração de Empresas permite maior facilidade de atuação, pois já está empregada na área. Porém reitera: “Quero fazer o que gosto”. A orientação causou grandes mudanças em sua vida. “Eu me encontrei mais."

Competição
O mercado de trabalho é outra dúvida recorrente. Sua expansão é crescente, revertendo-se em um maior espaço para os jovens profissionais. Paralelo a isso o número de pessoas formadas cresce continuamente.
De acordo com o último censo realizado em 2005, pelo Ministério da Educação, cerca de 717. 858 pessoas conseguiram concluir o curso universitário. O mercado de trabalho incorpora esses números, tornando-se cada vez mais competitivo. Esta concorrência acaba por permear todas as relações profissionais, estendendo-se inclusive para as relações cotidianas.
É possível supor que o velho drama da escolha profissional tenha se resolvido a partir dessa abertura no mercado de trabalho, porém muitos jovens saem do ensino médio sem saber o que fazer. Não estão prontos a escolher, tampouco aptos a decidir sobre suas vidas. O vestibular é um dos momentos em que esses adolescentes passam a ser donos de suas próprias atitudes.
“Tenho muitas dúvidas em relação ao mercado de trabalho”, confirma Maysa. Os exemplos de profissionais bem sucedidos em áreas que, por exemplo, são caracterizadas pelo seu difícil acesso ao mercado de trabalho, podem eliminar alguns mitos. O mercado de trabalho exige certa maturidade ao escolher e tomar decisões.

Profissional e Vocacional
Uma das definições de orientação adjetivada com os termos vocacional e profissional foi descrita por Mark L. Savickas, teórico e pesquisador da área, como uma ajuda aos indivíduos indecisos, para que eles possam avaliar o seu repertório comportamental e traduzi-lo em escolhas vocacionais. Para Tabata de Mello Rodrigues, psicóloga da Clínica de Psicologia Aplicada (CPA) da Universidade São Judas Tadeu, a orientação não deve ser baseada em testes. “O teste é apenas um complemento”, conclui.
Conhecer-se, por exemplo, é uma forma de melhorar a aplicação dos testes. “O autoconhecimento faz o indivíduo pensar sobre si mesmo”, afirma Evelise de Souza Coutinho, outra psicóloga da clínica.
Em geral este serviço é disponibilizado gratuitamente, como é na Universidade São Judas Tadeu. O trabalho é composto por várias etapas. Em um primeiro momento, é realizada uma triagem, baseada no perfil dos estudantes que procuram a clínica. Para Evelise, o ideal é formar grupos homogêneos, porém é uma tarefa difícil. Pois cada um tem uma necessidade e disponibilidade diferente. Apesar desta impossibilidade, a clínica adota meios que possam diminuir essas diferenças. “Trabalhamos com atividades para o grupo, observando as características individuais”, diz Evelise. Essas atividades vão desde questionários com perguntas pessoais até discussões sobre a influência dos pais na decisão profissional. Há também uma devolutiva individual. Funciona como um feedback. Normalmente, são cinco encontros, que exigem uma maior exposição. Portanto, é perceptível qualquer alteração, qualquer forma de induzir o seu resultado. “Na discussão, as divergências no discurso são percebidas”, explica Evelise.

Pais x Filhos
Os adolescentes sofrem vários tipos de influências. Dos pais, dos amigos, do mercado de trabalho etc. É a primeira decisão individual desses jovens, o que significa que não são mais crianças. A ansiedade não está apenas nos adolescentes, também está nos pais. Alguns serviços de orientação profissional, como o da CPA da Universidade São Judas Tadeu, por exemplo, aproximam os pais para este debate, por meio de encontros, onde os filhos não participam. “Alguns pais admitem influenciar”, aponta Evelise Nestas reuniões, os pais recebem uma carta geral, feita pelo grupo, sem citações diretas. Alguns pais se manifestam, outros tentam se esconder. A orientação procura se aliar ao aconselhamento profissional. Estimular a percepção de várias áreas conflui para uma decisão consciente. Os adolescentes devem ser motivados a pesquisar a área escolhida. Tabata declara que não seria assertivo convidar profissionais, pois poderia influenciar na escolha, além de agradar apenas alguns participantes. A iniciativa deve partir deles. “A partir de um esforço e iniciativa deles, discutimos”, defende Tabata.
As descobertas são importantes neste momento. A orientação, apenas, faz a intermediação dos adolescentes com os profissionais.

Aplicação
Todas as clínicas de psicologia adotam linhas de abordagem diferentes. A usada na clínica da Universidade São Judas Tadeu é a construtivista, ou seja, o sujeito é instigado a construir a sua identidade, se apropriando da sua escolha. É uma construção crítica que colabora para a sua formação. “Na orientação profissional, o adolescente não fará um teste para focar tal área. Aprenderá a escolher”, ressalta Evelise. Quando se conhece apenas uma, entre tantas possibilidades, o indivíduo tende a se fechar para as demais, porém é no momento em que se conhece todas as opções que surgem as indecisões. Essas dúvidas serão importantes para a definição da sua escolha. O campo de possibilidades se ampliará. Não é preciso ter pressa para essa escolha. Esse tempo será definido pelo próprio jovem, porém é possível mudar de idéias. Pode-se começar de novo. O direito da re-escolha existe, afinal nada é definitivo. Nem os casamentos, nem as profissões e, principalmente, a vida.

:: SAMPA ::

Mercado Municipal - símbolo da gastronomia paulista

São Paulo é a síntese do Brasil e de centenas de povos. Para muitos, é a capital gastronômica do mundo, pois oferece inúmeras opções, promovendo encontros entre cozinhas regionaise mundiais, e acaba assumindo sua maior característica: ser uma cidade cosmopolita.

Gastronomias como a do Japão, da Itália e a sírio-libanesa são fortemente valorizadas. O sushi, a pizza e o quibe foram incorporados, definitivamente, ao cardápio paulista, e nos mostram que nos igualamos pela boca, pelo paladar.

Não podemos conhecer São Paulo, sem antes experimentar angu, buchada, galinhada, pizza, sushi, quibe, feijoada etc.., pois é pela boca que se conhece, verdadeiramente, uma cultura.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Garapa: a realidade de muitos

Seria mais uma entre tantas, mas não foi. Naquela tarde de sábado, assisti a um documentário, que me marcou muito. Foi um soco no estômago. Assisti a cenas de muita tristeza e covardia.

O documentário de José Padilha, Garapa, conseguiu me transportar a um universo diferente e distante.

Jamais conseguiria, ou pelo menos, chegaria próximo do que aquelas pessoas da Comunidade de Santa Rita, no Estado do Ceará, sentem. São famílias sofridas, pela dor de suas fomes.

Histórias reais, de um Brasil desconhecido, negligenciado. Padilha nos mostra detalhes da realidade dessas pessoas que sobrevivem com muito pouco, na busca incessante por alimentos. Os dias são angustiantes e longos. Eternos!

Não há esperança de um novo amanhã. As horas passam lentamente, e fome surge como um animal voraz, incontrolável.

O arroz, o feijão e a farinha são divididos entre o almoço e a janta. Quando se almoça, não se janta, e vice-versa. Não se tem escolha. E a garapa engana a fome dos mais fracos, e dos que mais sofrem, as crianças.

O filme discute não só o problema da fome, como também questiona esse Estado, do qual fazemos parte, por se apresentar omisso diante dessa realidade.

Não podemos mais permitir que isso ocorra. A mudança deve começar aos poucos. Cabe a todos nós, perceber que essa realidade está ao nosso lado, na rua em que moramos, no bairro em que vivemos, e em nossa cidade. Devemos olhar ao lado, notar o que acontece ao nosso redor.

Estou cansada de esperar do outro, o que eu deveria fazer. Cada um de nós, tem uma responsabilidade. Não a de mudar o mundo, porque seria impossível, mas a de transformar a nossa realidade, seja através de ações ou atitudes.

É isso...

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Bela...simplesmente...bela!!!!

By Adriana da Costa Nunes
O encontro da natureza viva com a natureza morta.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Andarilha


Andarilha

Ando entre vários
entre muitos
Mas não me encontro
Estou em tudo
Em você
No outro
E naquele
Vago, vago...

Encontros
Ah! Os encontros
São únicos
Cheios de significados
Desafiadores

Quero me entender, me encontrar
Fazer muitas descobertas
Assustadoras, não sei

Preciso me fechar
Ficar frente a frente com meu eu
Senti-lo
Compreendê-lo

Vago entre o ser e o não ser
Procuro respostas
Mas não as encontro
São respostas próprias de mim
Procuro em mim um pouco de mim mesma

Por Carina Barros

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Na casa da Ruth

Tenho ouvido muitas coisas recentemente. Mas nenhuma delas me casou tantas lembranças como o cd "Na Casa da Ruth", uma realização do SESC SP. São aquelas músicas de quando éramos crianças. Músicas de roda, de ninar, de brincar e, principalmente, de sonhar. Essa Ruth, que vos falo, é a nossa Ruth Rocha.

Você se lembra dessa:

Borboletinha tá na cozinha
Fazendo chocolate
Para a madrinha
Poti poti
Perna de pau
Olho de vidro
E nariz de picapau

Eu sou uma borboleta
E tava lá na cozinha
Fazendo chocolate
Só para dar para a vizinha
Poti, poti, poti
Poti, perna de pau,
Ela tem olho de vidro
E nariz de pica-pau

(Apesar de estar no cd, essa canção é de domínio público)