Movimento recupera a história do Jardim Ibirapuera em São Paulo
“Não deixe o samba morrer
Não deixe o samba acabar
O morro foi feito de samba
De samba, pra gente sambar...”
Sintetizado em versos, o samba jamais deixou de existir. A composição de Edson Gomes Conceição e Aloísio, “Não deixe o samba morrer”, é um pedido às novas gerações, quase uma súplica, para que o ritmo não caia em esquecimento e não seja abandonado.
Essa cadência nacional nasceu do “Choro”, protagonizado por Joaquim Callado no final do século 19.
De lá para cá, inúmeras são as referências. Algumas conhecidas do público em geral. São elas: Adoniram Barbosa, Ari Barroso, Ataulfo Alves, Cartola, Chiquinha Gonzaga, Lamartine Babo, Noel Rosa e Pixinguinha, grandes nomes do samba para todos os tempos.
O ritmo chegou aos morros, conquistou periferias inteiras e, hoje, movimenta inúmeros projetos sociais. Um deles surgiu nos becos do Jardim Ibirapuera, em São Paulo, o “Bloco do Beco”, um bloco carnavalesco, que se transformou em uma entidade preocupada no resgate dos carnavais de rua e na reconstrução da sua identidade através do samba.
O projeto atua desde 2002, na comunidade, e se sustenta por meio de doações, bazares e, principalmente, do trabalho voluntário. Dentre suas ações, está a implantação de uma Escola Livre do Samba, parceria com Faculdades e Escolas de Música, que pretende construir núcleos de pesquisas que envolvem a prática do canto, a dança, a percussão, o erudito, a história crítica e a memória do samba paulistano, criando espaços para a reflexão sobre o tema.
O resultado disso, está nos seminários, nas palestras e simpósios realizados pela organização. A Escola apóia a pesquisa “Um Batuque Memorável no Samba Paulistano”, de Carlos Gomes, diretor do Bloco, que pretende recuperar histórias e músicas presentes na tradição oral da Velha Guarda do Samba Paulistano.
Por nascer no morro, o Bloco traz aos moradores da região alguns questionamentos, dos quais se conclui que a partir da história do samba se têm novos horizontes, novas possibilidades sociais. Essa memória contribui para entender e situar o desejo dessa gente por esse ritmo nacional.
O morador Givanildo dos Santos Silva vivencia as atividades do projeto através das mudanças geradas na comunidade. “Os jovens são atraídos pela música, pela possibilidade de re-aprenderem a história do seu bairro”, aponta.
Para o sociólogo e coordenador do Bloco, Luiz Cláudio de Souza, a ação não só modifica como, também, transforma. “O samba é o que move todo o nosso trabalho. Tudo o que pensamos e para quem pensamos, passa pelo viés do samba. O Bloco do Beco mobiliza através da arte”, afirma.
Neste sentido, não há a preocupação de se descobrir potencialidades artísticas, mas sim, dar às pessoas uma oportunidade de se descobrirem como seres integrantes de um conhecimento capaz de desenvolver uma comunidade educativa e transformadora.
A diretriz do Bloco está na memória, ou seja, os participantes, por vezes, são incitados a indagarem sobre a história do seu bairro, seja na conversa com os mais velhos, com antigos moradores e comerciantes, seja na descoberta de instituições estabelecidas no local ou fotos antigas. “Os educadores integram esse conceito ao conteúdo das atividades. Dentro do street dance, por exemplo, como investigação da memória, os envolvidos podem pesquisar os movimentos de dança oriundos do bairro, qual a dança mais comum entre as pessoas dali, entre outras lembranças”, explica o sociólogo.
De fato, é na periferia que se concentra uma parcela da população mais carente do país. Esta situação tem se modificado a partir de trabalhos sociais desenvolvidos por instituições e indivíduos dispostos a mudarem a perspectiva das pessoas que lá residem.
Para Souza, as políticas sociais dos governos não conseguem transpor a barreira da pobreza. “Hoje as políticas sociais dos governos servem, apenas, para a manutenção da miséria, da violência, o que gera mais impunidade e pessoas sem sonhos”, aponta o coordenador.
O investimento no desenvolvimento humano deve se sobrepor a qualquer outro. “Não basta ao país crescer economicamente, se grande parte das pessoas, ainda, vive sem ter um subemprego para a sobrevivência mínima”, enfatiza.
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